Mas, será que arquitectura vai conseguir mudar mentalidades? Vamos conseguir organizar as aprendizagens dos nossos alunos de um modo diferente, mais dinâmico?
Tenho algum receio que alguns colegas se sitam perdidos sem as 4 paredes, quadro e giz.
Re: Como a arquitectura está a ser usada para...
Boa tarde!
Um artigo muito interessante mas que também me suscita algumas/ muitas interrogações!
Será que os nossos alunos e os nossos colegas professores se adaptam a estes espaços abertos e informais de aprendizagens? Será que a cultura social irá valorizar esta tão importante iniciativa?
De facto, "Learning street" permite estender a transmissão do conhecimento para fora da sala de aula, visando por exemplo, entre muitas metas proporcionar uma aprendizagem mais significativa, mas também mais comunicativa e dinâmica, interagindo com os meios envolventes e não centralizada em espaços mais fechados e passivos!
Eu tenho o previlégio de conhecer uma Escola na Dinamarca onde o dinamismo é um ponto fundamental nas aprendizagens de todos!
Outra questão me surge:
Tudo depende de nós! Mas será que vamos conseguir interagir com esta mudança, apelando para a concentração dos nossos alunos já tão dispersos com meios digitais diversos e a favor das aprendizagens activas e dinâmicas?
Gostei bastante do artigo, mas sinceramente colocou-me profundamente a reflectir!
Re: Como a arquitectura está a ser usada para...
Re: Como a arquitectura está a ser usada para...
Professor Vítor Teodoro
Foi com entusiasmo que me fui inteirando da filosofia subjacente, ao ambicioso projecto em curso pela Parque Escolar.
Por isso e em primeiro lugar, agradeço-lhe a possibilidade da leitura do artigo do Público, tanto mais que tenho sentido no presente ano lectivo, a situação descrita de simultaneidade do decurso das aulas com a “poeira e ruído”, que se tem tornado penoso em muitos momentos.
Mas tudo tem o seu lado positivo, uma vez que estes novos projectos de arquitectura trazem novos desafios à Escola.
A questão que se poderá colocar prende-se com a adaptação às novas realidades dos edifícios e a forma mais eficaz de rentabilizar os espaços, envolvendo simultaneamente todos os intervenientes escolares, para que a aprendizagem dos alunos se faça de forma mais significativa e motivadora.
Um desafio que iremos assumir, e para o qual seria importante algum investimento na formação de professores, para que a interacção com os alunos se tornasse mais eficaz e segura.
Por outro lado, não deverá ser esquecido o papel que os encarregados de educação poderão ter neste processo, não só através da sua colaboração pessoal mas motivando os seus educandos, para que participem na escola com sentido de responsabilidade e cooperação, o que para este efeito será importante o papel da Associação de Pais.
Outra situação a rever neste novo conceito que se pretende introduzir, “learning street”, prende-se com os programas curriculares dos alunos, que são extensos e não permitem, em muitos casos, uma exploração mais aprofundada de assuntos que lhes podem despertar um maior interesse.
Será que a nova arquitectura vai ser estímulo suficiente para despoletar a motivação de todos os intervenientes escolares para uma aprendizagem mais significativa e mais ligada ao quotidiano, permitindo alterar algumas práticas de ensino?
Com a entrada em funcionamento das novas infra-estruturas, irá começar o desafio!
Maria Ana Mestre
Re: Como a arquitectura está a ser usada para...
Re: Como a arquitectura está a ser usada para...
Prof. Vitor Teodoro
Li de bom grado o artigo do passado dia 6 de Junho sobre a forma como a arquitectura poderá mudar o ensino, sendo este um tema que já tenho abordado com alguns colegas meus.
Surpreendida fiquei ao saber ter sido uma das inspirações da Parque Escolar em Portugal o learning street, o tal espaço aberto e informal que permite estender a transmissão de conhecimentos para fora da sala de aula, precisamente porque na minha escola não há espaços onde os alunos possam trabalhar, por exemplo, em grupo. Apenas temos a biblioteca mas como se sabe esse espaço requer algum silêncio. Se eu já achava que tal era uma falha na esola nova, que poderei pensar agora quando é referido ser esta uma das preocupações da Parque Escolar?
No início do artigo é referido que na altura “as pessoas não foram capazes de se adaptar, mas isso foi há 40 anos e hoje há uma evolução do conceito do ensino centrado no aluno para um ensino centrado no trabalho corporativo”, só que receio que os professores continuem a não se adaptar em virtude da extensão dos programas. Gostaria que me explicassem como poderei centrar mais as minhas aulas no trabalho corporativo dos alunos, quando se tem programas de Física e Química A de 10º Ano e 11º Ano, bastante extensos e com componente laboratorial obrigatória.Desde 2003-2004 que lecciono os novos programas e todos os anos tenho dificuldade em cumpri-los. Por mais voltas que dê o programa tem que ser cumprido e os pré-requisitos que os alunos possuem no início do secundário são muitos débeis o que dificulta muito o trabalho do professor. Para mim, a extensão dos programas de 10º e 11º Ano é uma das principais razões das aulas não poderem ser mais centradas num trabalho corporativo. Para lá da nova arquitectura das escolas, parece-me que urge repensar na arquitectura dos programas, pois pode ser este o alicerce para a construção de uma nova escola.
Re: Como a arquitectura está a ser usada para...
Re: Como a arquitectura está a ser usada para...
Isto de fazer obras é muito complicado. Ao contrário do que há uns tempos se fazia, as obras tem sido bem pensadas por gente muito capaz. A dicussão prévia com as escolas, o trabalho dos arquitectos e até o modo de execucção das obras tem sido muito bem dirigidas. Agora o problema dos materiais a utilizar (alguns pouco adaptados à utilização exaustiva), das normas ditas de União Europeia, que se está nas tintas para os paises do sul, tem que se lhe diga...
O que menos gostamos (eu , alunos e gente que trabalha na escola) é a falta de janelas que abram facilmente (não se pode por causa das normas de...será segurança? eficiência de qualquer coisa...?)
O que desejamos é que quando chegar o inverno não esteja muito frio porque não há dinheiro para pôr os ares condicionados, que proliferam por todo o lado, a trabalhar...pelo sim pelo não guardámos os velhos aquecedores.
Eu, e todos os meus alunos asmáticos e com alergias pedimos que não se esqueçam de limpar regularmente os tectos falsos que são espectaculares em termos de acústica mas acumulam, "bués de pós e coisas, professora" citação do António do 10º ano.
Em relação aos laboratórios, os nossos já entregues, estão muito bem construídos:a orientação solar é boa e possuem zonas de trabalho que permitem aos alunos estar atentos e trabalhar autonomamente, fora das horas de aulas nos seus projectos científicos.
Finalmente vai-nos ser entregue uma sala junto à zona de convívio para pôr a funcionar o nosso velho clube de ciências. Esperemos que essa zona de tertúlia científica volte a ser um espaço de aprendizagem, de amizade e amor pelo único planeta que conseguimos habitar.
Re: Como a arquitectura está a ser usada para...
Um artigo deveras interessante para uma revista da especialidade. Tenho a sensação (enganadora?) de que o processo que decorre no nosso país não dê muita relevância aos aspectos pedagógicos e práticos das infraestruturas, e se centre mais nos aspectos económicos, administrativos e burocráticos dos novos edifícios.
Será mero acaso as escolas intervencionadas aumentarem a sua área de superfície e simultaneamente se estar a proceder à constituição dos mega-agrupamentos? Quando a escola foi idealizada na mesa do arquitecto, foi com o intuito genuíno de criar mais espaço e melhores condições para o mesmo número de membros da comunidade escolar ou com o intuito de preencher com mais alunos para se fechar outros espaços, e deste modo se perder a vantagem da intervenção arquitectónica?
Coisas prosaicas como a distância dos WC às salas de aula, revestimentos do piso, tipo de resguardos da janelas, acabamentos em geral, etc., também revelam qual a preocupação pela qualidade de construção.
O processo de ensino-aprendizagem resulta da interdependência de vários factores, dos quais a qualidade do equipamento e infraestruturas. Existem estudos realizados noutros países mostraram que quando os espaços eram melhorados e apresentados com melhor aspecto estético, existia uma diminuição do vandalismo e uma maior preocupação para a conservação.
O que me dizem, esqueço. O que me explicam, entendo. O que faço, aprendo. Confúcio
Re: Como a arquitectura está a ser usada para...
Tendo lido o artigo “Como a arquitectura está a ser mudada para…” e ouvido, de seguida, a prelecção de Sir Ken Robinson “Bring on the learning revolution!”, não consigo dissociar os dois. Quer-me parecer que aquilo que é sugerido para aplicar nos alunos deveria ser seguido na construção das escolas, ou seja, adequar as teorias e experiências dos outros (ainda que boas e com resultados comprovados), à realidade individual, primeiro do país e depois das regiões e dos próprios locais.
Como sugere (e bem) o Arquitecto Michael Toussaint é a arquitectura que deve servir a vida e não o inverso. Por isso não me parece possível fazer edifícios para uma determinada metodologia de ensino e depois fazer encaixar as pessoas, os seus hábitos culturais e respectivas mentalidades, nessa metodologia. Como habitual estamos a construir o “edifício” educativo pelo telhado. Primeiro tratamos das paredes e depois formatamos as pessoas para combinar com elas.
Parece-me não só mais sensato, mas de todo imprescindível, para podermos ter a metodologia de ensino que é preconizada, que se mudem os programas, que se adquiram os equipamentos e que se preparem as pessoas para que ela possa ser implementada. Contudo, é importante, não esquecer que as mentalidades são difíceis de mudar. Os hábitos culturais da sociedade em que estamos inseridos não se alteram de imediato, o processo é muito lento.
Seria realmente muito agradável, termos todos os nossos alunos com portáteis debaixo do braço a consultar a internet mas para isso seria necessário que a mentalidade dos nossos alunos mudasse e eles pensassem no computador como um instrumento de trabalho. Como se pode constatar a realidade dos nossos alunos é bem diferente. O computador é um brinquedo, um meio de diversão. Sempre que é utilizado na sala de aula para a realização de trabalho de pesquisa ou trabalho prático, lamentavelmente o professor constata que alguns alunos estão a consultar sites não permitidos ou que nada tem a ver com o assunto em questão ou, estão a jogar na Internet. São sempre situações delicadas que acarretam consequências indesejáveis.
Adoraria poder desenvolver trabalhos individuais com todos os alunos de acordo com as suas preferências, mas para isso teria de ter um programa que não fosse obrigatório e muito menos extenso. Os programas deveriam ser então opcionais, em que o aluno se inscreveria em módulos de acordo com os seus interesses pessoais tendo em vista o seu futuro profissional, tal como acontece em determinados cursos, no ensino superior. Mas, coloca-se outra questão, no ensino básico e secundário terão os alunos maturidade suficiente para saberem o que realmente pretendem do seu futuro profissional? Não será melhor fornecer um ensino mais abrangente que lhe forneça conhecimentos gerais para mais tarde poder realizar essas opções?
Apesar de tudo podem regulamentar, decretar e mandar aplicar, esta será sempre a parte mais fácil. Mais difícil será preparar a sociedade (mesmo a escolar) para essa mudança. Mas, todos sabemos, que é pelos mais novos, que se começa a transformar uma sociedade. E já que temos os edifícios preparados que tal darem-nos as outras condições para começarmos essa mudança já?
Conceição Pinheiro