A flexibilidade das Salas de Ciências

A flexibilidade das Salas de Ciências

por António Ferreira -
Número de respostas: 2

As Salas de Ciências apresentadas no passado dia 27 de Setembro, foram apresentadas como um modelo de elevada flexibilidade. Tem por base, se bem percebi, a mobilidade das mesas/bancadas de forma a obter várias tipologia possíveis. Mas tal suscita-me algumas reservas...

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Não tenho, à partida, qualquer objecção de princípio à flexibilidade com base na mobilidade das mesas/bancadas. Na verdade, já trabalhei num laboratório que tinha este género de flexibilidade. Com algumas vantagens, devo dizê-lo! As mesas (eram mesas mais altas, próprias para laboratório) albergavam facilmente os bancos por baixo. As mochilas também podiam ser arrecadadas por baixo das mesmas durante o trabalho laboratorial. Isso facilitava enormemente a circulação num laboratório que era pequeno. Por outro lado foi possível agrupar as mesas, construindo «bancadas» em número e tamanho adequados.

 

Mas também tinha desvantagens. Transcrevo aqui as críticas que fizemos nessas altura (1996) num documento enviado à DREC:

«... Estas mesas não têm posições fixas e são por isso frequentemente arrastadas dos seus lugares, obrigando alunos e professores a dispô-las de modo adequado antes de se iniciarem os trabalhos, o que provoca uma perda de tempo [...]. Além disso as mesas arrastam-se facilmente, o que pode provocar acidentes (de queda de equipamento, de derrames, de derrube de material, de salpicos com reagentes corrosivos, etc.). As pias de lavagem estão afastadas dos locais onde se realizam os trabalhos. Quando os alunos necessitam de usar pias de lavagem acumulam-se nas três existentes, o que cria situações de perigo potencial e de falta de funcionalidade (cada grupo de trabalho deveria dispor de, pelo menos, um lavatório na sua bancada). [...] Existem apenas três tomadas de electricidade (!) o que é manifestamente insuficiente. A utilização de extensões, nas quais é muito fácil tropeçar, pode provocar a queda de equipamento e/ou reagentes.»

[em anexo está uma foto destes laboratórios]

 

Julgo que no modelo proposto as ligações a infra-estruturas de água, esgotos, electricidade e redes será sempre problemática, pois tendem a ficar sempre demasiado afastadas dos locais onde se realizam as actividades.

 

Acho que os professores, de um modo geral, não vão andar a arrastar as mesas no início e no final de cada aula! Muito menos o farão no decorrer da aula. Imagine-se a confusão!

 

Concebo mais esta flexibilidade de «bancadas soltas» numa perspectiva de adaptação da Sala de Ciências a especificidades locais. Imagine-se, uma escola na qual a Sala de Ciências fosse ser usada para a disciplina de Física. Os professores decidiam, com base no material disponível e do número de alunos, que o melhor seria trabalhar com 3 grupos. O laboratório seria modificado de acordo com isso. Mas ficaria montado durante todo o ano (ou parte dele) de acordo com o estabelecido no início.

Tal solução poderia incluir bancadas fixas, isto é, depois de definida a tipologia, em determinada escola, para uma disciplina, então as bancadas seriam presas ao piso (aparafusadas?) de acordo com a tipologia escolhida. Parece-me praticável este tipo de flexibilidade.

 

Tenho ainda outro tipo de reserva relativamente à flexibilidade destas salas de Ciências. Acho que não existe espaço auxiliar suficiente. A adaptação do laboratório às várias disciplinas implicaria que existisse uma zona, um «sector técnico», dentro da Sala de Ciências, que fosse configurável e adaptável a cada disciplina e/ou a cada ano lectivo.

 

Por exemplo, uma Sala de Ciências para química precisa de:

- hotes,

- chuveiro e lava-olhos de emergência

- de material de vidro com alguma abundância (em armário de vitrina).

- balanças

Se for uma Sala de Ciências para biologia precisará, suponho:

- de estufas e incubadoras,

- de banho termostático

- de algum material de vidro (em armário de vitrina),

- de microscópios?

Se for uma Sala de Ciências para Física precisará:

- de interfaces/sensores

- computadores (mais, talvez, do que nas outras salas...)

- multímetros

- cabos eléctricos

Uma sala de Ciências para o ensino básico terá também as suas necessidades.

 

Por isso, penso que devia existir, dentro de cada laboratório uma zona própria para albergar material e equipamento específico, isto é, uma zona que fosse «configurável» para cada uma das disciplinas. Isto seria flexibilidade. Ora a Sala De Ciências apresentada tem falta de um espaço, devidamente infra-estruturado para receber equipamentos específicos de cada disciplina. Aliás, esse espaço parece-me estar a ser considerado naquela secção entre laboratórios, o que me deixa muita dúvidas quanto à funcionalidade.

 

E onde fica, afinal, a «sala de preparações»: uma sala onde os professores possam preparar as aulas e deixar alguma experiência montada?

Anexo MVC-001S.JPG
Em resposta a 'António Ferreira'

Re: A flexibilidade das Salas de Ciências

por Carlos Cunha -
Colega a nossa participação neste fórum (a sua e a minha, pelo menos) parece ser um diálogo de surdos!

O colega não assistiu à mesma apresentação que eu de certeza absoluta. Senão passo a explicar:
- Quem falou em bancadas móveis? As bancadas são corridas e encostadas à parede e fixas. Eu até coloquei a questão sobre o facto de os alunos poderem estar de costas para o professor...O que é móvel são as mesas de apoio que podem o não ser encostadas às bancadas
- Cada bancada terá pelo menos 3 pontos de água: para quatro grupos de aula em desdobramento é mais do que suficiente.
- Arrumação??? Então o espaço por trás da teaching wall? onde tem hj num laboratório um espaço com aquelas potencialidades?
- Sala de preparações? Então a sala que ligará os dois laboratórios é para quê? Não será para o coffe break dos professores...
- Equipamento específico? Está claro que sim, no espaço comum estarão as balanças, estufas, banhos termoestatizados, muflas, etc. Os sensores são tão necessários na Química como na Física como na Biologia.
Por favor consulte o documento em anexo que penso ser perfeitamente esclarecedor das suas duvidas.
Penso que a discussão se deve centrar no tipo de aula que se pretende leccionar nas disciplinas de Ciências: Expositivas (chatas) fazendo desenhos mais ou menos abstractos no quadro, apelando a um desenvolvimento mais "à frente" do que a real capacidade cognitiva dos nossos alunos, ou aulas com recurso frequente à observação, com exemplos experimentais para que os jovens sintam que a ciência está no seu dia-a-dia e não no laboratório dos "cientistas loucos". Para as primeiras precisa do que tem hoje: quadro negro e giz branco; uma vez por semana os pequenos cozinheiros vão ao laboratório seguir a receita que um iluminado fez e aqui vai disto que o bolo sai no fim; para a segundas precisa de uma sala onde possa deitar mão dos mais diversos recursos para demonstrar aquilo que está a explicar, medindo, discutindo, voltando a medir, pesquisar aprender com os erros e voltar a fazer, construir com os alunos os seus conhecimentos, sempre pelos alicerces e depois as paredes e finalmente o telhado. O laboratório deve ser o nosso espaço de leccionação não em 90 (agr 135 minutos) por semana mas todos os 3x90 minutos, é esse o nosso ambiente, o nosso espaço. É claro que cada aula é um desafio, um mar de suor no seu final mas a razoável certeza que algumas das coisas que mostrou não serão mais esquecidas porque o aluno mexeu nelas: interveio não foi um mero espectador. É assim que vejo a utilidade deste espaço, porque evita que eu perca tempo a transportar de uma lado para o outro aquilo que preciso.
Desculpe colega mas neste ponto parece termos uma visão completamente diferente do que é ensinar FQ, e assim nunca iremos concordar com esta sala como algo que necessito muito mais do que os 45 minutos extra que foram dados este ano.
Em resposta a 'Carlos Cunha'

Re: A flexibilidade das Salas de Ciências

por António Ferreira -

Caro colega <?xml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />Carlos Cunha, a nossa dificuldade de comunicação não se prende com uma diferença nas perspectivas de ensino de FQ, mas antes com uma diferença de perspectivas profissionais.

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Eu defendo um ensino de qualidade que exige solução de profissionais. Sempre me bati para ter condições laboratoriais de elevada qualidade, funcionais, especializadas, sobretudo com os espaços e os equipamentos adequados. Fi-lo por mim, pelos meus alunos e pelos meus colegas. Fi-lo porque achei que isso fazia parte do meu desempenho profissional. Em parte consegui! Tenho trabalhado em laboratórios, que não são bons, mas que são razoáveis. E repare que aquilo que para mim é só razoável para outros já é muito bom! Mas, como profissional, eu tenho que ser exigente, comigo e com os outros. Por isso não quero agora passar de cavalo para burro!

 

O colega defende, quanto a mim, uma solução que é amadora, pois as soluções de 2 em 1 são tipicamente amadoras. Um profissional não se pode dar ao luxo de perder tempo à espera..., a montar e desmontar..., a combinar... Um profissional precisa de espaços e equipamentos adequados para realizar a sua actividade, seja ela qual for.

 

A si, colega Carlos Cunha, coube-lhe uma difícil tarefa neste fórum: a de explicar o inexplicável. Aliás, quanto mais se explicou mais mostrou as debilidades deste modelo. Afinal, o tal anexo entre as salas não é 2 em 1. É 3 em 1: é apoio à sala 1, é apoio à sala 2 e é sala de preparações! É a isto que nos temos que sujeitar? Realmente esta parte não tinha percebido! É bem pior do que eu pensava!

 

As soluções de 2 em 1 (teaching wall e arrumo), de 3 em 1 (anexo) e de 8 em 1 (espaço central da sala de ciências) são, no meu entender, soluções amadoras. Até podem parecer úteis e interessantes, mas são pouco funcionais, porque limitam as utilizações simultâneas. Em minha casa há um telefone que é fax, mas num qualquer escritório há um telefone e há um fax. Na minha cozinha tenho uma varinha mágica que é picadora, mas numa cozinha profissional há uma varinha e há uma picadora (ou há mais!). O 2 em 1 é a solução barata do bricolage. Os profissionais usam equipamentos e espaços dedicados. Não se podem dar ao luxo de esperar, de perder tempo, de um só dano (e respectiva reparação) implicar a perda temporária de duas ou três funcionalidades.

 

Eu percebi muito bem o essencial desta proposta, o problema é que não concordo com ela. E quanto mais o colega explica menos concordo. O colega pensa que se explicar muito e bem que eu vou perceber e quando perceber que vou concordar. Portanto, perceber, para si, é o mesmo que concordar!

Eu já percebi! Mas não concordo! E quanto mais percebo menos concordo! Portanto, quanto mais explica, pior! Em vez de explicar, poderia defender a sua perspectiva. Se calhar até iríamos concordar mais facilmente em alguma coisa.

 

Eu defendo uma solução polivalente com recurso a zonas dedicadas, com espaço, com o equipamento necessário, onde professores e alunos possam exercer a sua actividade em condições adequadas de higiene e segurança. Soluções que sejam motivadoras e geradoras de responsabilidade. Não posso concordar com soluções que dificultem, que impeçam, que limitem a realização de trabalho laboratorial, mesmo que elas pareçam melhores do que aquilo que existe actualmente na generalidade das escolas.