Um modelo de Ensino Experimental de Ciências

Um modelo de Ensino Experimental de Ciências

por António Ferreira -
Número de respostas: 1

É mítica aquela história da escola construída no Alentejo, na qual existiam uns ferros espetados numa parede que ninguém sabia para que serviam. Pelos vistos a escola era inspirada num modelo nórdico e os ferros, que tinham sido incluídos no cumprimento escrupuloso do projecto original, serviam, afinal, para encostar os esquis!<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Não sei se esta história é verdadeira. Provavelmente até nem é. Mas ela é contada recorrentemente para ilustrar os frequentes desajustes da arquitectura escolar às necessidades quotidianas do nosso ensino. Ela parece traduzir também a convicção de que muitos desses desajustes se devem à importação de soluções usadas noutros países, sem se cuidar de as adaptar à nossa realidade.

 

E qual é a nossa realidade? O modelo de ensino experimental de ciências existente em Portugal tem quase vinte anos. Um dos princípios desse modelo é o de que algumas aulas das disciplinas de ciências experimentais são desdobradas em turnos. Tais aulas de turno devem ser usadas preferencialmente para a realização de actividades práticas e laboratoriais. E isto é verdade para o 3º ciclo do ensino básico e para o ensino secundário. É um princípio geral.

Nos anos mais recentes ocorreu uma reforma no ensino básico e outra do ensino secundário. Quase não deixaram pedra sob pedra, mas umas das coisas que mantiveram foi este princípio: aulas divididas em turnos para actividades práticas, incluindo trabalho experimental.

 

Poderiam restar dúvidas relativamente às opções ainda mais recentes nesta matéria. Mas quais são, afinal, as decisões mais recentes relativamente ao <?xml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" />ensino das ciências?

- reforço da carga horária nas disciplinas de ciências experimentais... na aula de turno;

- o peso da componente prático-laboratorial na avaliação é agora de 30%.

 

Esta organização do tempo escolar, no que respeita ao ensino experimental é, portanto, uma realidade incontornável. Pode-se concordar ou discordar, mas é o modelo que existe!

 

Parece-me que qualquer solução respeitante aos novos espaços para o ensino de ciências deve ser desenhada tendo em conta esta realidade.

 

Talvez fosse interessante procurar sugestões e recomendações mais próximas da nossa experiência e do nosso modelo de ensino das ciências. O Ciência Viva produziu recentemente um documento escrito sobre características de laboratórios de ciências, com o contributo de alguns professores (nos quais estou incluído). Congratulo-me com tanta e tão vasta bibliografia disponibilizada neste fórum, certamente muito útil, mas é pena que não esteja aqui disponível o documento do Ciência Viva.

Em resposta a 'António Ferreira'

Re: Um modelo de Ensino Experimental de Ciências

por Carlos Cunha -
Li com atenção o que escreveu na sua participação neste fórum. Fiquei sem perceber se foi o colega que não percebeu o que foi apresentado na reunião, ou se fui eu que não percebi nada.

Na verdade, não vi em algum momento por em causa as aulas desdobradas. Considero-as importantes, na medida em que permitem desenvolver nos alunos competências de manipulação laboratorial, mas também de observação, partilha de ideias, discussão em grupos mais restritos que são mais difíceis em turmas completas. Mas o modelo proposto permite também (devo repetir o que percebi: também) a aula com a turma completa num espaço de ciência, com equipamentos à mão do professor e dos alunos, sem a necessidade pouco prática e insegura de andar a passear tabuleiros pela escola, ou de os ir buscar a meio de uma aula porque seria apropriado na sequência, por exemplo, da intervenção de uma aluno.

É aqui, quanto a mim, que reside a grande inovação deste modelo: o professor não anda a leccionar em salas "normais", mas em salas preparadas com aquilo que necessita para demonstrar, praticar com os seus alunos as competências que pretende desenvolver. Não se trata de importar "ferros para esquis", mas melhorar o que de bom se faz por esse mundo fora. Afinal, nenhum desses países está tão mal classificado nos testes PISA como o nosso. Alguma coisa devem saber fazer melhor que nós...

No sistema actual, sempre que quero dar uma aula numa sala normal, utilizando projector, ou internet, ou computadores para os gupos de alunos, tenho que por em prática os bons princípios nacionais de "burro de carga" e transportar todo o material para a dita sala. A perda de tempo, para montar tudo, mal compensa o aumento da carga lectiva, e o que a ADSE comparticipa mal chega para o fisioterapeuta!.