Ser TA em Inglaterra

Ser TA em Inglaterra

por Joana Alves -
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Olá, chamo-me Joana Alves, sou mais uma das recém-licenciadas do curso de Ensino de Ciência da Natureza da Universidade Nova de Lisboa que decidiu deixar a terra natal (a muito custo) para abraçar uma nova carreira e experiência profissional. Foi a custo porque veio aliado a um sentimento de frustração de quem não consegue crescer profissionalmente no próprio país, sentindo que nele poderia construir uma carreira de sucesso. Agora, vejo-me forçada a partir de um patamar a baixo para atingir o que realmente quero e orações como “dar tempo ao tempo” são ilusórias porque o tempo passa sem darmos por ele.

Adiante… Estou neste momento colocada numa escola como Teacher Assistant no Departamento de Ciências. Como estou igualmente ligada ao SEN (Special Education Needs), a minha função na escola não só é ajudar os professores no desenrolar das aulas, mas também dar apoio mais individualizado a determinadas crianças com algumas necessidades especiais. Noutras condições as necessidades poderiam estar aliadas a deficiências motoras ou mentais, no meu caso específico apenas têm a ver com dificuldades de aprendizagem ou comportamento. (posso garantir também não é fácil)

A primeira fase após a minha chegada, a 2 de Outubro de 2007 foi um pouco complicada. Estive quase dois meses enrolada em burocracias com agências e escolas á espera de respostas. Eu parti de Portugal com algumas entrevistas marcadas, mas o que me pareceu claro ao início logo se complicou. O processo de “legalização” não é fácil, e viver neste país sem sustento também não. Tratar do National ensure number, traduções de documentos, cartas de recomendação, CRB… tudo isto requer tempo e muita paciência. Viver sozinha pela primeira vez às custas dos pais que estão longe e envolta de chatices muitas vezes puxou-me para baixo contudo, tudo se resolveu tal como eu inicialmente tinha traçado. O meu objectivo  foi ser colocada numa escola, como Teacher Assistant , no Departamento de Ciências não só para viver de perto todo o universo educativo inglês (que é bem diferente do nosso e cheio de siglas!) mas também para praticar a fluência na língua inglesa, e assim foi =) Após algumas colocações provisórias a preencher covers noutras escolas, fui finalmente colocada em Janeiro permanentemente até ao final do ano lectivo na Charles Edward Brook Girl´s School em Oval (Londres).

Não é fácil entrar numa escola a meio do ano lectivo porque a recepção nem sempre é calorosa. As crianças por vezes são bastante maldosas e reagem na defensiva, como não conhecem, atacam. Foi preciso algum tempo de adaptação e paciência para me ver moldada não só a um paradigma diferente como também a problemas intrínsecos. Quem diz que existe violência nas escolas portuguesas, tem de viver a realidade inglesa para sentir o que são problemas profundos a nível do comportamento. A experiência na escola onde estou colocada levou-me a descobrir a resposta á questão “porque será que existem tantas vagas para professores cá?” Porque ser professor em Inglaterra não é fácil, os alunos não nos respeitam nem compreendem sequer para que serve a educação. Para além de haver graves lacunas em termos de regulamentação, um currículo moldado em utopias também não ajuda. Para mim, o grande problema recai sobre a progressão, eu lido com muitas jovens de 15 anos com capacidades cognitivas de 8. É complicado lidar com o complexo quando o básico não existe e é obvio que isso se vai reflectir também a níveis de educação cívica básica. Mas acredito que isto é apenas a minha experiência recente. Não aponto o dedo a todas as escolas, mas verdade é que se eu vim para cá cheia de idealismos em encontrar o sucesso, esses idealismos depressa se abateram.

Contudo, e aparte de filosofias, hoje em dia sinto-me bastante satisfeita com o trabalho que tenho vindo a desempenhar, para além de ter conquistado um generoso leque de alunas, que apreciam a ajuda que lhes dou, também sinto que o departamento está satisfeito. O trabalho não é exaustivo, a minha função recai mais sobre a performance da sala de aula, contudo tenho também vindo a criar uma webpage de recursos vídeo para o departamento (é triste ver que o aproveitamento não é o desejável, mas é trabalho feito para quando for professora).

Já lá vão 5 meses desde que cheguei a terras de “Sua Majestade” e a introspecção é positiva. Para além de estar empregada estou a viver ainda um sentimento de estudante porque estou em formação, a aprender novos modelos de aprendizagem novas ideologias que em muito têm ajudado a construir um contentamento pessoal. Espero para o ano estar colocada numa universidade a fazer o PGCE para daqui a dois anos estar colocada como professora numa escola em Inglaterra. Com isto reuni muitas aprendizagens, muitos recursos (nisso o modelo é extraordinário) um currículo razoável para nos anos seguintes tentar instituições particulares no nosso adorado e luzente Portugal.

Com saudades da família, dos amigos, do tempo, das noites e dos dias…

Abraços

Joana Alves