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  1. Filosofia
  2. A Atitude Filosófica (7 documentos)

A Atitude Filosófica (7 documentos)

1. A Atitude Filosófica no CANTICO NEGRO

(abrir em baixo)

2. O que é a Filosofia?

"Dado que a filosofia é imprescindível ao homem, está sempre presente e manifesta: nos provérbios tradicionais, em máximas filosóficas correntes, em convicções dominantes como sejam, por exemplo, a linguagem e as crenças políticas.(...) Não se pode fugir à filosofia. Pode perguntar-se apenas se é consciente ou inconsciente, boa ou má, confusa ou clara. Quem recusar a filosofia está a realizar um acto filosófico de que não tem consciência."

Karl Jaspers, Iniciação Filosófica

"O valor da filosofia, em grande parte, deve ser buscado na sua mesma incerteza. Quem não tem umas tintas de filosofia é homem que caminha pela vida fora sempre agrilhoado a preconceitos que se derivaram do senso comum, das crenças habituais do seu tempo e do seu país, das convicções que cresceram no seu espírito sem a cooperação ou o consentimento de uma razão deliberada. O mundo tende, para tal homem, a tornar-se finito, definido, óbvio; para ele, os objectos habituais não erguem problemas.(...)Quando começamos a filosofar, pelo contrário, imediatamente caímos na conta de que até os objectos mais ordinários conduzem o espírito a certas perguntas a que incompletissimamente se dá resposta. A filosofia, se bem que incapaz de nos dizer ao certo qual venha a ser a verdadeira resposta às variadas dúvidas que ela própria evoca, sugere numerosas possibilidades que nos conferem amplidão aos pensamentos, desactivando-nos da tirania do hábito. Embora diminua, por consequência, o nosso sentimento de certeza no que diz respeito ao que as coisas são, aumenta em muitíssimo o conhecimento a respeito do que as coisas podem ser; varre o dogmatismo, um tudo-nada arrogante, dos que nunca chegaram a empreender viagens nas regiões da dúvida libertadora; e vivifica o sentimento de admiração, porque mostra as coisas que nos são costumadas num determinado aspecto que o não é. Além desse dom de nos abrir perspectivas de insuspeitadas possibilidades, tem a filosofia ademais o mérito - que é talvez o seu maior mérito - da grandeza dos objectos a que se consagra e da libertação do nosso espírito em relação aos escopos individuais e estreitos, que resulta da contemplação de tais objectos."

Bertrand Russell, Os Problemas da Filosofia

"A filosofia é isto mesmo. Esta procura incessante de inteligibilidade, de compreensão, para aquilo que, no fundo, são os problemas variados do nosso viver concreto. Não apenas pela curiosidade de investigar, não apenas pela vaidade ou satisfação de saber, pela necessidade estrutural de agir e de transformar.(...) Trata-se, sem dúvida, de um caminho árduo, este o da filosofia. Porém, bem vistas as coisas, não é mais árduo do que a tarefa de viver que diante de cada um de nós se abre quotidianamente exigindo resposta e responsabilidade."

José Barata Moura, Totalidade e Contradição

"A filosofia é esta reflexão crítica e interrogativa que permite a um homem e a uma civilização ascender à consciência de si, distinguir entre os verdadeiros e os falsos valores, pôr-se em questão para se renovar e ultrapassar. Um tempo como o nosso, caracterizado pela expansão e a crise dos saberes e dos poderes e onde os problemas se vão radicalizando, tem uma premente necessidade para se compreender a si própria, dum pensamento filosófico livre, vivo diferenciado. Que a filosofia se apague, que a voz dos filósofos se extinga e o espírito tornar-se-á cada vez mais vulnerável às manipulações dos mercadores de ídolos e dos fabricantes de opinião."

Pró-Filosofia , Manifesto dos intelectuais franceses em defesa do ensino da

filosofia (Julho de 1975)

http://ctne.fct.unl.pt/file.php/11/o_que_e_a_filosofia-_colectanea.doc

O que é a filosofia?
John Shand


3. A casa que os filósofos construíram
A filosofia assemelha-se muito a uma casa que se constrói sobre estacas num rio. Nessa casa podemos fazer todo o género de coisas — construir coisas, movê-las de um lado para o outro — mas estamos sempre cientes de que a estrutura é suportada por pilares assentes em algo potencialmente e, amiúde, realmente inconstante. A filosofia desce repetidamente para ver como estão as coisas perto da base dos pilares e na verdade inspecciona os próprios pilares. As coisas podem precisar de mudança lá em baixo. Para os filósofos isto não é apenas a natureza da filosofia mas a condição intelectual genuína da humanidade. É a filosofia que presta uma atenção detalhada a essa condição e a leva a sério. Isto em vez de a ignorar ou resolvê-la de um modo sofístico.
As áreas da filosofia
O âmbito da filosofia é vasto e basicamente unificado. Contudo, para clarificar questões e desenvolver competências, divide as suas energias em áreas de especialização. Estas áreas têm duas características. Por um lado, algumas áreas têm um objecto de estudo que parece sustentar grande parte daquilo que pensamos e fazemos. Por outro, outras áreas sustentam preocupações mais particulares. As áreas alimentam-se entre si e estão inter-relacionadas. A filosofia não se constrói como outras disciplinas, verticalmente, a partir de fundamentos básicos inquestionados. Não consiste em parcelas fáceis que todos podemos pressupor, a partir das quais se faz as parcelas mais complexas. Não há, como se diz, águas pouco profundas em filosofia — quando se começa, todas as questões profundas entram de imediato em jogo

4.FILOSOFAR
 
André Comte-Sponville
Filosofia: doutrina e exercício da sabedoria (e não simples ciência) - KANT
 
 
Filosofar é pensar por conta própria; mas só se consegue fazer isso de um modo válido apoiando-se primeiro no pensamento dos outros, em especial dos grandes filósofos do passado. A filosofia não é apenas uma aventura; também é um trabalho, que requer esforços, leituras, ferramentas. Os primeiros passos costumam ser rebarbativos, e já desanimaram mais de um.
...
O que é a filosofia? Já me expliquei muitas vezes a esse respeito, e faço-o mais uma vez. A filosofia não é uma ciência, nem mesmo um conhecimento; não é um saber a mais: é uma reflexão sobre os saberes disponíveis. É por isso que não se pode aprender filosofia, dizia Kant: só se pode aprender a filosofar. Como? Filosofando por conta própria: interrogando-se sobre seu próprio pensamento, sobre o pensamento dos outros, sobre o mundo, sobre a sociedade, sobre o que a experiência nos ensina, sobre o que ela nos deixa ignorar... Encontrar no caminho as obras deste ou daquele filósofo profissional, é o que se deve desejar. Com isso pensaremos melhor, mais intensamente, mais profundamente. Iremos mais longe e mais depressa. Mas esse autor, acrescentava Kant “não deve ser considerado o modelo do juízo, mas simplesmente uma ocasião de se fazer um juízo sobre ele, até mesmo contra ele”.
Ninguém pode filosofar em nosso lugar. É evidente que a filosofia tem seus especialistas, seus profissionais, seus professores. Mas ela não é uma especialidade, nem uma profissão, nem uma disciplina universitária: ela é uma dimensão constitutiva da existência humana. Uma vez que somos dotados de vida e de razão, coloca-se para todos nós, inevitavelmente, a questão de articular uma à outra essas duas faculdades. É claro que podemos raciocinar sem filosofar (por exemplo, nas ciências), viver sem filosofar (por exemplo, na tolice ou na paixão). Mas não podemos, sem filosofar, pensar nossa vida e viver nosso pensamento: já que isso é a própria filosofia.
A biologia nunca dirá a um biólogo como se deve viver nem se se deve, nem mesmo se se deve fazer biologia. As ciências humanas nunca dirão o que a humanidade vale, nem o que elas mesmas valem. Por isso é necessário filosofar: porque é necessário reflectir sobre o que sabemos, sobre o que vivemos, sobre o que queremos, e porque nenhum saber basta para empreender essa reflexão nem nos dispensa dela. A arte? A religião? A política? São grandes coisas, mas também devem ser interrogadas. Ora, a partir do momento em que as interrogamos, ou nos interrogamos sobre elas um pouco profundamente, saímos delas, pelo menos em parte: já damos um passo para dentro da filosofia. Nenhum filósofo contestará que esta, por sua vez, tenha de ser interrogada. Mas interrogar a filosofia não é sair dela, é entrar nela.
Por que caminho? Segui aqui o único que conheço de facto, o da filosofia ocidental. O que não quer dizer que não haja outros. Filosofar é viver com a razão, que é universal. Como a filosofia poderia ser reservada a alguém? Ninguém ignora que há, especialmente no Oriente, outras tradições especulativas e espirituais. Mas não dá para falar de tudo e seria ridículo, de minha parte, pretender apresentar pensamentos orientais que só conheço, na maioria, de segunda mão. Não creio que a filosofia seja exclusivamente grega e ocidental. Mas, evidentemente, como todo o mundo, estou convencido de que há no Ocidente, desde os gregos, uma imensa tradição filosófica, que é a nossa, e é para ela, é nela, que gostaria de guiar o leitor.
Viver com a razão, dizia eu. Isso indica uma direcção, que é a da filosofia, mas não poderia esgotar seu conteúdo. A filosofia é questionamento radical, busca da verdade global ou última (e não, como nas ciências, desta ou daquela verdade particular), criação e utilização de conceitos (mesmo que isso também se faça em outras disciplinas), reflexividade (volta do espírito ou da razão para si mesmo: pensamento do pensamento), meditação sobre sua própria história e sobre a história da humanidade, busca da maior coerência possível, da maior racionalidade possível (é a arte da razão, por assim dizer, mas que desembocaria numa arte de viver), construção, às vezes, de sistemas, elaboração, sempre, de teses, de argumentos, de teorias... Mas também é, e talvez antes de mais nada, crítica das ilusões, dos preconceitos, das ideologias. Toda filosofia é um combate. Sua arma? A razão. Seus inimigos? A tolice, o fanatismo, o obscurantismo. Seus aliados? As ciências. Seu objecto? O todo, com o homem dentro. Ou o homem, mas no todo. Sua finalidade? A sabedoria: a felicidade, mas na verdade. Tem pano para muita manga, como se diz; ainda bem, porque os filósofos gostam de arregaçá-las!
Na prática, os objectos da filosofia são incontáveis: nada do que é humano ou verdadeiro lhe é estranho. Isso não significa que todos tenham a mesma importância. Kant, numa passagem célebre da sua Lógica, resumia o domínio da filosofia em quatro questões: Que posso saber? Que devo fazer? O que me é permitido esperar? O que é o homem? “As três primeiras questões remetem à última”, observava Kant. Mas as quatro desembocam, eu acrescentaria, numa quinta, que é sem dúvida, filosófica e humanamente, a questão principal:
Como viver? A partir do momento em que tentamos responder a essa pergunta de modo inteligente, fazemos filosofia. E, como não se pode evitar de formulá-la, é forçoso concluir que só se escapa da filosofia por tolice ou obscurantismo.
Deve-se fazer filosofia? Uma vez que fazemos essa pergunta, em todo caso, uma vez que tentamos responder a ela seriamente, já estamos fazendo filosofia. Isso não quer dizer que a filosofia se reduza à sua própria interrogação, menos ainda à sua auto justificação. Porque também fazemos filosofia, pouco ou muito, bem ou mal, quando nos interrogamos (de maneira ao mesmo tempo racional e radical) sobre o mundo, sobre a humanidade, sobre a felicidade, sobre a justiça, sobre a liberdade, sobre a morte, sobre Deus, sobre o conhecimento... E quem poderia renunciar a fazê-lo? O ser humano é um animal filosofante: só pode renunciar à filosofia renunciando a uma parte da sua humanidade.
É preciso filosofar, portanto: pensar tão longe quanto pudermos, e mais longe do que sabemos. Com que finalidade? Uma vida mais humana, mais lúcida, mais serena mais razoável, mais feliz, mais livre... É o que se chama tradicionalmente de sabedoria, que seria uma felicidade sem ilusões nem mentiras. Podemos alcançá-la? Nunca totalmente, sem dúvida. Mas isso não nos impede de tender a ela, nem de nos aproximar dela. “A filosofia”, escreve Kant, “é para o homem esforço em direcção à sabedoria, esforço sempre não consumado.” Mais uma razão para empreender esse esforço sem mais tardar. Trata-se de pensar melhor para viver melhor. A filosofia é esse trabalho; a sabedoria, esse repouso.
O que é a filosofia? As respostas são tão numerosas, ou quase, quantos os filósofos. O que não impede, todavia, que elas se cruzem ou convirjam para o essencial. No que me diz respeito, tenho um fraco, desde os meus anos de estudo, pela resposta de Epicuro: “A filosofia é uma actividade que, por discursos e raciocínios, nos proporciona a vida feliz.” É definir a filosofia por seu maior êxito (a sabedoria, a beatitude), o que, mesmo que o êxito nunca seja total, é melhor do que encerrá-la em seus fracassos. A felicidade é a meta; a filosofia, o caminho. Boa viagem a todos!
In: Comte-Sponville, André. Apresentação da filosofia. São Paulo. Martins Fontes,2002. pg.11-16

5.


A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E ao contrário da matemática não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas, e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.
A preocupação fundamental da filosofia é questionar e compreender ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensar nelas. Um historiador pode perguntar o que aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: «O que é o tempo?» Um matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: «o que é um número?» Um físico perguntará o que constitui os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como as crianças aprendem uma linguagem, mas um filósofo perguntará: «Que faz uma palavra significar qualquer coisa?» Qualquer pessoa pode perguntar se entrar num cinema sem pagar está errado, mas um filósofo perguntará: «O que torna uma acção boa ou má?»
Não poderíamos viver sem tomar como garantidas as ideias de tempo, número, conhecimento, linguagem, bem e mal, a maior parte do tempo; mas em filosofia investigamos essas mesmas coisas. O objectivo é levar o conhecimento do mundo e de nós um pouco mais longe. É óbvio que não é fácil. Quanto mais básicas são as ideias que tentamos investigar, menos instrumentos temos para nos ajudar. Não há muitas coisas que possamos assumir como verdadeiras ou tomar como garantidas. Por isso, a filosofia é uma actividade de certa forma vertiginosa, e poucos dos seus resultados ficam por desafiar por muito tempo.
Thomas Nagel
Texto retirado de Que quer dizer tudo isto? de Thomas Nagel (tradução de Teresa Marques, Gradiva, 1995

1- Faça a distinção entre ciência e filosofia.
2- 2- comente a frase sublinhada.

6.
     O senso comum tem o peso da tradição, que o transforma num saber de repetição e de hábitos e tem a fatalidade de estar prisioneiro das primeiras impressões, das aparências, da falibilidade dos sentidos. O senso comum é, fundamentalmente, superficial, sensitivo e sensorial, subjectivo, assistemático, acrítico. O senso comum, embora tenha a vantagem de ser utilitário e permitir-nos resolver os problemas do quotidiano, torna-se pernicioso quando se assume como uma visão do mundo devido à falta de espírito crítico e à sua submissão às aparências ilusórias.


     A filosofia opõe-se à superficialidade do senso comum substituindo-a pela radicalidade, pela investigação em profundidade, recusando as primeiras impressões, as visões superficiais, as evidências demasiado imediatas.
     A filosofia opõe-se à crença nos sentidos e às visões emocionadas e emocionais através da reflexão e do uso crítico da razão que supera os erros dos sentidos e as impressões emocionais.
     A filosofia opõe-se ao subjectivismo egotista daqueles que fazem girar o mundo em volta de si mesmos e, afirmando que o pensar deve ser pessoal, insiste na importância do diálogo e na possibilidade de construir um saber partilhado.
     A filosofia opõe-se ao anarquismo daqueles que acreditam que se pode pensar no caos e através do caos, desordenadamente, sem método, espontaneamente e propõe a substituição desse anarquismo intelectual por um esforço de sistematização e de rigor propícios à partilha de ideias e à sua fundamentação.
     A filosofia opõe-se à ausência de espírito crítico, à passividade, à preguiça intelectual, à predisposição para aceitar os argumentos da autoridade, afirmando o inconformismo, o direito à divergência e utilizando a dúvida, a ironia e a reflexão crítica como poderosas armas para derrubar os dogmatismos.


1- Partindo do texto faça um esquema com as características distintivas do senso comum e ciência.

7.Viver sem filosofar é, propriamente, ter os olhos fechados, sem nun¬ca tentar abri-los; e o prazer de ver todas as coisas que a nossa vista descobre não é, de modo algum, comparável à satisfação que dá o conhecimento daquelas que se encontram através da filosofia; e enfim este estudo é mais necessário para regrar os nossos costumes, e nos con¬duzir nesta vida, do que o uso dos olhos para guiar os nossos passos. Os brutos animais, que só têm o corpo para conservar, ocupam-se con¬tinuamente a procurar com que alimentá-lo; mas os homens, cuja prin¬cipal parte é o espírito, deveriam empregar as suas principais preocupa¬ções na busca da sabedoria, que é o seu verdadeiro alimento. E estou, igualmente, convencido de que há muitos que não deixariam de o fazer, se tivessem a esperança de o conseguir e se soubessem como disso são capazes.
Rene Descartes, Princípios da Filosofia, Areal Editores, p. 50


O valor da filosofia, em grande parte, deve ser buscado na sua mes¬ma incerteza. Quem não tem umas tintas de filosofia é homem que caminha pela vida fora sempre agrilhoado a preconceitos que se deri¬varam do senso-comum, das crenças habituais do seu tempo e do seu país, das convicções que cresceram no seu espírito sem a cooperação ou o consentimento de uma razão deliberada. O mundo tende, para tal homem, a tornar-se finito, definido, óbvio; para ele, os objectos habi¬tuais não erguem problemas, e as possibilidades infamiliares são desde¬nhosamente rejeitadas. Quando começamos a filosofar, pelo contrário, imediatamente caímos na conta (...) de que até os objectos mais ordi¬nários conduzem o espírito a certas perguntas a que incompletissimamente se dá resposta. A filosofia, se bem que incapaz de nos dizer ao certo qual venha a ser a verdadeira resposta às variadas dúvidas que ela própria evoca, sugere numerosas possibilidades que nos conferem amplidão aos pensamentos, descativando-nos da tirania do hábito. Embora diminua, por consequência, o nosso sentimento de certeza no que diz respeito ao que as coisas são, aumenta em muitíssimo o conhe¬cimento a respeito do que as coisas podem ser; varre o dogmatismo, um tudo-nada arrogante, dos que nunca chegaram a empreender via¬gens nas regiões da dúvida libertadora; e vivifica o sentimento de admi¬ração, porque mostra as coisas que nos são costumadas num determi¬nado aspecto que o não é.
Bertrand Russell, Os Problemas da Filosofia, Almedina, pp. 147-148.


Uma razão importante para estudar filosofia é o facto de esta lidar com questões fundamentais acerca do sentido da nossa existência. A maior parte das pessoas, num ou noutro momento da sua vida, já se interrogou a respeito de questões filosóficas. Por que razão estamos aqui? Há alguma demonstração da existência de Deus? As nossas vidas têm algum propósito? O que faz que certas acções sejam moralmente boas ou más? Poderemos alguma vez ter justificação para violar a lei: Poderá a nossa vida ser apenas um sonho? É a mente diferente do cor¬po, ou seremos apenas seres físicos? Como progride a ciência? O que e a arte? e assim por diante.
A maior parte das pessoas que estuda filosofia acha importante que cada um de nós examine estas questões. Algumas até defendem que não vale a pena viver a vida sem a examinar. Persistir numa existência roti¬neira sem jamais examinar os princípios nos quais esta se baseia pode ser como conduzir um automóvel que nunca foi à revisão. Podemos jus¬tificadamente confiar nos travões, na direcção e no motor, uma vez que sempre funcionaram suficientemente bem até agora; mas esta confiança pode ser completamente injustificada: os travões podem ter uma defi¬ciência e falharem precisamente quando mais precisarmos deles. Analo¬gamente, os princípios nos quais a nossa vida se baseia podem ser intei¬ramente sólidos; mas, até os termos examinado, não podemos ter a certeza disso.
Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, pp. 23-24

7.    Viver sem filosofar é, propriamente, ter os olhos fechados, sem nun¬ca tentar abri-los; e o prazer de ver todas as coisas que a nossa vista descobre não é, de modo algum, comparável à satisfação que dá o conhecimento daquelas que se encontram através da filosofia; e enfim este estudo é mais necessário para regrar os nossos costumes, e nos con¬duzir nesta vida, do que o uso dos olhos para guiar os nossos passos. Os brutos animais, que só têm o corpo para conservar, ocupam-se con¬tinuamente a procurar com que alimentá-lo; mas os homens, cuja prin¬cipal parte é o espírito, deveriam empregar as suas principais preocupa¬ções na busca da sabedoria, que é o seu verdadeiro alimento. E estou, igualmente, convencido de que há muitos que não deixariam de o fazer, se tivessem a esperança de o conseguir e se soubessem como disso são capazes.
Rene Descartes, Princípios da Filosofia, Areal Editores, p. 50


O valor da filosofia, em grande parte, deve ser buscado na sua mes¬ma incerteza. Quem não tem umas tintas de filosofia é homem que caminha pela vida fora sempre agrilhoado a preconceitos que se deri¬varam do senso-comum, das crenças habituais do seu tempo e do seu país, das convicções que cresceram no seu espírito sem a cooperação ou o consentimento de uma razão deliberada. O mundo tende, para tal homem, a tornar-se finito, definido, óbvio; para ele, os objectos habi¬tuais não erguem problemas, e as possibilidades infamiliares são desde¬nhosamente rejeitadas. Quando começamos a filosofar, pelo contrário, imediatamente caímos na conta (...) de que até os objectos mais ordi¬nários conduzem o espírito a certas perguntas a que incompletissimamente se dá resposta. A filosofia, se bem que incapaz de nos dizer ao certo qual venha a ser a verdadeira resposta às variadas dúvidas que ela própria evoca, sugere numerosas possibilidades que nos conferem amplidão aos pensamentos, descativando-nos da tirania do hábito. Embora diminua, por consequência, o nosso sentimento de certeza no que diz respeito ao que as coisas são, aumenta em muitíssimo o conhe¬cimento a respeito do que as coisas podem ser; varre o dogmatismo, um tudo-nada arrogante, dos que nunca chegaram a empreender via¬gens nas regiões da dúvida libertadora; e vivifica o sentimento de admi¬ração, porque mostra as coisas que nos são costumadas num determi¬nado aspecto que o não é.
Bertrand Russell, Os Problemas da Filosofia, Almedina, pp. 147-148.


Uma razão importante para estudar filosofia é o facto de esta lidar com questões fundamentais acerca do sentido da nossa existência. A maior parte das pessoas, num ou noutro momento da sua vida, já se interrogou a respeito de questões filosóficas. Por que razão estamos aqui? Há alguma demonstração da existência de Deus? As nossas vidas têm algum propósito? O que faz que certas acções sejam moralmente boas ou más? Poderemos alguma vez ter justificação para violar a lei: Poderá a nossa vida ser apenas um sonho? É a mente diferente do cor¬po, ou seremos apenas seres físicos? Como progride a ciência? O que e a arte? e assim por diante.
A maior parte das pessoas que estuda filosofia acha importante que cada um de nós examine estas questões. Algumas até defendem que não vale a pena viver a vida sem a examinar. Persistir numa existência roti¬neira sem jamais examinar os princípios nos quais esta se baseia pode ser como conduzir um automóvel que nunca foi à revisão. Podemos jus¬tificadamente confiar nos travões, na direcção e no motor, uma vez que sempre funcionaram suficientemente bem até agora; mas esta confiança pode ser completamente injustificada: os travões podem ter uma defi¬ciência e falharem precisamente quando mais precisarmos deles. Analo¬gamente, os princípios nos quais a nossa vida se baseia podem ser intei¬ramente sólidos; mas, até os termos examinado, não podemos ter a certeza disso.
Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, pp. 23-24
 

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