Miguel Angelo lupi

Pintor romântico, retratista de mão-cheia, Miguel Ângelo Lupi poderia ter desenrolado seus dias e se aposentado como simples funcionário público, no mais singelo dos cargos dentro de uma repartição, o de amanuense, encarregado de copiar e registrar documentos.

     Pelo menos, assim desejavam seus pais, ele italiano e ela portuguesa, preconceituosos com relação a artistas, que consideravam de vida errante e ganho incerto.

     Não que lhe proibissem o exercício da arte; apenas não a queriam como profissão, mas permitiram que fizesse suas experiências e até consentiram que fizesse a Academia Real de Belas-Artes. Mas só até aí. Nada de abraçar a pintura como carreira, nem fazê-la como ganha-pão.

     Foi em 1851 que, dentro de seu ofício burocrático, teve de viajar a Angola, onde ficou por dois anos, livre da influência paterna e respirando novos ares, conhecendo cidadãos de várias áreas de atividade e tomando contato com um povo até então estranho para ele.

     Ao retornar a Portugal, em 1853, trazia consigo o germe da rebeldia, disposto a abrir espaço como artista, sem entretanto entrar em choque frontal com a família. Foram anos, retratando parentes e amigos, como amador, até que, em 1859, com o consentimento de seus superiores, pintou um retrato do rei D. Pedro V, que foi pendurado no salão do Tribunal de contas, onde ele era escriturário.

     A partir daí, ninguém mais, ainda que quisesse fazê-lo, conseguiria impedir seu caminho rumo ao sucesso. O quadro foi visto e elogiado por muitos, até chegar ao conhecimento de D. Pedro V que, não só foi pessoalmente contemplar a obra como, após isso, concedeu-lhe uma bolsa de estudos para aperfeiçoamento em Roma.

     Como acontecida naquela época com todos que iam à Itália para aprendizado, Lupi treinou copiando obras de artistas famosos, como Ticiano, Corregio, Andrea del Sarto e, como exceção, também do espanhol Velazquez.

     Voltando a Lisboa em 1864, tornou-se professor de pintura histórica na Academia Real de Belas-Artes, à qual permaneceu ligado até sua morte em 1883. Nesse mesmo ano, em homenagem póstuma, a Academia realizou uma retrospectiva de sua obra.

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