Neuroaprendizagem, metodologias ativas e comunidades de aprendizagem

Neuroaprendizagem, metodologias ativas e comunidades de aprendizagem

por Fabio Barros -
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Neuroaprendizagem

Os estudos do cérebro tem avançado enormemente nas últimas duas décadas, em especial com a criação de equipamentos que agora permitem mapear a atividade cerebral enquanto realizamos diferentes atividades. No século passado, diversos pesquisadores e educadores analisavam empiricamente o resultados de suas metodologias no processo de aprendizagem, mas agora, de forma inédita, é possível analisar o funcionamento do cérebro, por exemplo, enquanto aprendemos. Novos exames de neuroimagem associados a conhecimentos de psicologia tem analisado elementos fundamentais do processo de aprendizagem e cognição, que incluem, do ponto de vista cerebral, principalmente a linguagem e a memória, e associam mente, cérebro e comportamento humano.

A neurociência é a área de pesquisa que estuda o funcionamento do cérebro e sistema nervoso humano. Suas aplicações no campo da educação tem sido chamadas de neuroaprendizagem por ser considerada uma abordagem inovadora com diversas implicações em termos pedagógicos. 



Fonte: V Neurociência e Matemática (2018) 04.jpg Licença: Creative Commons Attribution-Share Alike 4.0


As pesquisas recentes da neuroaprendizagem têm derrubado muitos mitos (ou neuromitos) sobre como ensinar e aprender. De forma geral, reforçam a importância das metodologias ativas, das emoções e da expressão verbal dos alunos (interação entre pares e com o professor) como meio de elaboração do pensamento, fundamental para o processo de aprendizagem significativo.

Para mais informações sobre este campo do conhecimento sugiro a leitura comentada do artigo Neurociências e Educação.


Metodologias ativas

São muitas as críticas ao ensino tradicional presencial, ao modelo de memorização mais simples na escala da taxonomia de Bloom (ver vídeo mais abaixo). É fundamental uma mudança metodológica, ou seja, de caminhos e formas de aprender e ensinar. As metodologias passivas, baseadas na crença da simples transmissão de conhecimentos tinham seu valor em tempos onde o acesso à informação era restrito à fala do professor e aos poucos textos disponíveis.

As metodologias ativas são uma terminologia geral aplicadas a diferentes métodos e técnicas pedagógicas que possuem em comum uma abordagem mais centrada na aprendizagem do estudante como sujeito ativo do seu processo educativo. Do ponto de vista da história contemporânea da educação, as metodologias ativas não são uma ideia nova e diversos autores, desde os anos 50 do século passado vem discutindo formas menos padronizadas e mais significativas para o processo de ensino aprendizagem. Autores como Novak, Dewey, Carl Rogers, Cecília Meireles, Rubem Alves, Freinet, Piaget, Ausubel, Neill, Freire entre tantos outros, defendem, em suas obras e práticas educativas, em menor ou maior grau,  que a educação deve ser mais livre, os alunos devem ter mais direito de escolha, mais autonomia e prazer, maior envolvimento e emoção, que a educação deve ser mais personalizada, incentivando o protagonismo, a colaboração e a aprendizagem crítica.

As recentes descobertas do campo da neuroaprendizagem reforçam a importância das metodologias ativas, da elaboração do pensamento, da reflexão, da fala e do diálogo entre os alunos, da mobilização dos afetos, subjetividades e emoções, da valorização do prazer no processo educativo. Da mesma forma, na era digital, o mundo online e as tecnologias tem criado novas possibilidades de ressignificação das metodologias ativas em novas conformações de espaço e tempo, de aprendizagem em rede e em comunidades de aprendizagem.

Embora a memória seja uma função cognitiva imprescindível no processo de elaboração da aprendizagem, os tempos atuais exigem uma reinvenção das práticas pedagógicas, baseadas principalmente em metodologias ativas de aprendizagem que aumentem o engajamento, o envolvimento de estudantes em um processo de aprendizagem significativo que desenvolva a autonomia, liberdade, criatividade, trabalho em grupo e outras competências necessárias ao nosso tempo.

"As metodologias precisam acompanhar os objetivos pretendidos. Se queremos que os alunos sejam proativos, precisamos adotar metodologias em que os alunos se envolvam em atividades cada vez mais complexas, em que tenham que tomar decisões e avaliar os resultados, com apoio de materiais relevantes. Se queremos que sejam criativos, eles precisam experimentar inúmeras novas possibilidades de mostrar sua iniciativa." José Moran, Mudando a educação com metodologias ativas. 2015


Sugestão de vídeo complementar sobre e a Taxonomia de Bloom na era digital.

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Comunidades de aprendizagem 

Compartilhamos aqui do conceito de comunidade virtual de aprendizagem enquanto espaço online onde um grupo de pessoas, mais ou menos organizados, vivenciam oportunidades de aprendizagens (COSTA, 2012). 

Para que uma comunidade virtual de aprendizagem funcione ativamente é preciso que haja colaboração e interação, assim como a necessidade de saber e partilhar (MEIRINHOS e OSÓRIO, 2007). São espaços online para aprender e ensinar que podem ser utilizados inclusive por pessoas que estão em cidades ou mesmo países diferentes, e até mesmo em tempos diferentes (aprendizagem assíncrona). São, portanto, um espaço de diálogo intercultural de sujeitos de diferentes realidades, com diferentes saberes e necessidades. 


Fonte: Ana Maria Di Grado Hessel e José Erigleidson da Silva. Licença: Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0


Rompendo com limitações de tempo e espaço, as comunidades de aprendizagem podem ser cursos, programas e currículos inteiros oferecidos de forma mais aberta, permitindo novas práticas educativas, como por exemplo: alunos de uma turma aprendendo com colegas de outros países, alunos estudando junto com ex-alunos já formados que revisam e reciclam conhecimento, comentários sobre uma leitura de texto que permanecem para que outras turmas possam interagir na leitura criando uma inteligência coletiva sobre o tema, entre outras possibilidades.

Em uma comunidade de aprendizagem realmente viva, o diálogo torna-se um elemento central . Para Freire (1987, p.45) “o diálogo é uma exigência existencial”, é o encontro dos homens e mulheres no mundo, para transformá-lo. E nesse sentido o diálogo não pode ser instrumento de dominação ou imposição de ideias. “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão” (FREIRE,1987, p.44). 

O diálogo, portanto, é base para a interação e colaboração. As descobertas, histórias e experiências vividas e compartilhadas pelos sujeitos no convívio em rede são elementos essenciais na ampliação e manutenção dessas redes de aprendizagem (SCHELLER et al, 2014). 

“A educação no contexto digital deve ser vivenciada como uma prática concreta de libertação e de construção de história. E, aqui, devemos ser todos sujeitos aprendizes, solidários num projeto comum de construção de uma sociedade na qual não exista mais a palavra do explorador e do explorado.” (GOMEZ, 2004, p.23) .


Modelo certo

Um dos debates presentes no campo da tecnologia educativa é sobre o controle, burocratização e massificação da aprendizagem pelas instituições responsáveis pelo gerenciamento/oferecimento de cursos e outros espaços de interação. “Como persuadir as instituições a abrir mão desse controle? Como levar os estudantes a tomarem o controle da sua própria aprendizagem?” (MOTA, 2009) 

"As redes de aprendizagem capturam um elemento essencial na aprendizagem hoje, o simples fato de não sabermos o que queremos ensinar. De fato, muitas vezes é sugerido que o melhor que podemos administrar é ensinar os alunos como aprender e depois disso encorajá-los a gerenciar seu próprio aprendizado” (DOWNES, 2010, p. 03).

Para Stephen Downes, um dos criadores da teoria de aprendizagem do conectivismo, seria necessário “reivindicar a aprendizagem” em um novo sistema com ênfase na autonomia, na cooperação, na liberdade, na conexão entre as pessoas em rede, diante de suas realidades, em contraponto a modelos hierarquizados, pré-definidos, controlados e lineares de ensino. 

Ao refletir sobre a busca ansiosa por modelos ou receitas de como fazer educação na era digital, o criador do conectivismo avisa: “O modelo certo é não ter modelo. O modelo certo é acabar com os modelos". (DOWNES, 2015)