Apresentação e Serviços

Os problemas

Existem vários problemas no modelo de funcionamento, nas práticas e no que por vezes aceitamos como irremediável nas nossas escolas. Tentámos reunir alguns problemas contra os quais pretendemos oferecer soluções através do Ciência na Escola.

Isolamento profissional


Os professores são egoístas e pessoas isoladas ou não? Porque não partilham os seus materiais, porque não trabalham em conjunto?

Acreditamos que não partilham porque os horários são complicados, a cultura da escola não divulga e promove esse comportamento, o processo baseado no papel é difícil. Não tem sido fácil e rápido a partilha, adaptação dos materiais partilhados às necessidades de cada um e a sua reutilização (share, remix, reuse) porque simplesmente não foram criadas oportunidades. O digital abre aqui novas possibilidades. É fácil partilhar, é fácil reeditar, é fácil colaborar. Não só a nível de recursos, mas também a nível de conhecimentos e experiências. E assim podemos preocuparmo-nos com aquilo que é realmente importante, reflectir, planear, avaliar, ensinar e aprender.
    

Uma escola pouco criativa


A escola mata a criatividade? Acreditamos que em termos gerais sim. A forma como está organizada, os processos pesados e burocratizados, a separação entre ciência e arte entre outras coisas tiram o espaço e o tempo para os professores e os alunos serem criativos. Sir Ken Robinson tem algo a dizer sobre isso, portanto aqui fica o seu vídeo:

 

Definimos criatividade como Umberto Eco nos diz em A Passo de Caranguejo (2007): "(...) [A] noção [de criatividade] está hoje desvirtuada. Se procurarem na Internet a palavra «criatividade», ou creativity, encontram 1 560 000 sites dedicados a este conceito, e não há um que não seja uma enorme desilusão. A maioria dos sites considera que a criatividade é uma capacidade industrial e comercial de resolução de problemas, e identificam-na com a inovação, ou seja, a predisposição para conceber ideias novas que aumentem as margens de lucro. Poucos destes sites se dedicam à criatividade artística, e se o fazem é a título de exemplo, para explicarem melhor as qualidades pretendidas num homem de negócios, ou para inserir na ideia de criatividade uma conotação de loucura. Se passarmos em revista os floreados das várias definições, descobrimos que algumas ilustres personagens disseram idiotices sem qualquer sentido, como quando afirmaram que «a criatividade não anda longe da liberdade. Ser criativo significa saber quem somos. A criatividade é jazz sem música. A criatividade é um fluxo de energia. Ser criativo significa ser corajoso.»

Porque é que estas noções comerciais de criatividade são tão insatisfatórias? Porque se reportam à invenção de uma ideia nova, mas não se preocupam com o facto de a novidade ser transitória, de curta duração, como sucede quando um criativo publicitário encontra uma fórmula nova para publicitar um detergente, sabendo perfeitamente que a resposta da concorrência a vai tornar de imediato obsoleta.

Gostaria que entendêssemos antes por actividade criativa aque que produz algo de inédito, que a comunidade está disposta a reconhecer como tal, a aceitar, a fazer seu e a reelaborar, como dizia C.S. Pierce, in the long run - e que como tal se torna património colectivo, à disposição de todos, subtraído ao gozo pessoal. Para ser considerada criatividade que tale deve consubstanciar-se numa actividade crítica. Não é criativa uma ideia que surge num brainstorming, resgatada do meio das outras todas e aceite entusiasticamente a faute de mieux. Para ser criativa, a ideia tem de ser examinada criticamente e, pelo menos no caso da criatividade científica, tem de ser passível de falsificação."

O eduquês e a investigação incipiente


Há fórmulas ou não há fórmulas para aprender e ensinar melhor? Há boas práticas ou não há boas práticas?

Construtivismo, o papel central do aluno, competências, objectivos, o processo de ensino-aprendizagem, as buzz words cansam muitos professores já. E resultados? E exemplos práticos? Faz falta partilhar, encontrar e divulgar o que resulta e não resulta. Quais os contextos mais favoráveis para que haja aprendizagem? Não acreditamos em receitas numa lógica newtoniana, acreditamos em receitas numa lógica quântica - há mais probabilidades de aprender se... e é nesse espaço que trabalharemos.

A visão pós-modernista da educação


A desconstrução de tudo, característica da visão pós-modernista do mundo, afectou claramente as teorias educativas. As reformas, os programas e a organização são atomizadores. As artes não são ciência, a ciência não é arte, não há misturas. O ensino básico é ensino básico, o secundário idem e o universitário ibidem. Porque é que as mesas não são redondas no secundário? Porque é que não se fazem desenhos com lápis habitualmente no ensino universitário? Porque é que não se investiga na primária?
Mas o eduquês está a decair e uma abordagem integral está a surgir.

Reformas superficiais, sem método, do estilo top-down


Ao contrário da medicina, onde as práticas do médico "comum" e do investigador académico são partilhadas e influenciam o "currículo" a nível global, as reformas curriculares na educação partem de um conjunto restrito de pessoas, por vezes ligados às universidades, fora de contexto e muitas vezes incoerentes, que influenciam professores e alunos por períodos longos. Os professores no terreno percebem essa incoerência, e quando as suas iniciativas são inovadoras o efeito é local e não afecta as práticas do grupo profissional.
Os standards  as provas de aferição estabelecidos parece que têm como único objectivo estabelecer como el dorado a universidade, acessível apenas aos "vencedores". Os cursos tecnológicos, o empreendedorismo no final do ciclo de ensino, as desistências nos finais de ciclo evidenciam pelo menos duas coisas: nem todos querem ir para a universidade; a escola como está organizada não é apelativa para a maioria.

O estatuto do professor


É bem sabido que em Portugal os bons médicos gozam de um excelente estatuto. De um bom professor(a) já não se pode dizer o mesmo, excepto talvez para um grupo de alunos que trabalhou com ele/ela. A nível da classe, os mais antigos têm mais estatuto. O que não implica necessariamente melhores professores. A avaliação de professores é incipiente, burocrática, o que não ajuda o processo. Os professores precisam de mecanismos melhores para serem valorizados (ou punidos) pelas suas práticas. Porque não há despedimentos de maus professores? Porque não há prémios para bons professores?
A falta de gente nova no ensino tem o seu peso. São precisas novas ideias na escola. Mas os novos não conseguem entrar ou não querem. Quem quer andar de um lado para o outro com a casa atrás, vítima do acaso dos concursos de professores?

Os professores trabalham ao nível da mente. A expressão do potencial das pessoas deve muito aos professores que mostram caminhos, ensinam métodos e usos de ferramentas, partilham conhecimento. Os grandes professores inspiram. Não há muitas profissões assim.

Recursos educativos que evoluem pouco e que estão associados muitas vezes a uma lógica de lucro


Há imensos recursos educativos que não servem o interesse dos alunos, muitas vezes construídos apenas na lógica do "vender mais". O negócio dos manuais escolares é no mínimo estranho (e também muito lucrativo): as editoras produzem materiais para os alunos, pagos pelos pais e escolhidos pelos professores.
E certificação de materiais? A investigação? O processo de escolha de manuais é efectivo?
Há também falta de dinâmica de empresas ligadas ao meio. O software educativo, as ferramentas de gestão de escola têm pouca presença em Portugal.

Tecnologias de código de fonte fechado que muitas vezes encarecem e limitam a escola


Muito do software existente nas escolas é de código fonte fechado. Para além da questão do custo (o software de código de fonte aberto também tem custos mas já foi estudado e o resultado é animador), existe a questão da flexibilidade do software de acompanhar as mudanças exigidas pelas reformas e pelo que a escola pretende para si. Ferramentas de comunicação, de produtividade e criatividade que poderiam ajudar a uma melhor ligação dentro da escola e para além dela, apoio a pais que não têm tempo de ir à escola, divulgação de actividades, colaboração online com publicação pelos alunos, ferramentas de gestão de projecto ou mesmo software educativo, se não fossem de baixo preço e de código de fonte aberto concerteza não entrariam tanto nas escolas. Podíamos sonhar com comunidades online criadas facilmente se não fosse o Moodle ou outro sistema aberto semelhante? Se sistemas destes não existissem, o que teríamos perdido?

Infra-estrutura tecnológica pobre


Há poucos computadores, a rede é pobre na escola, não há formação. Ok, vamos começar com o que temos. Um computador para cada 15 alunos, materiais de apoio a actividades e tutoriais para professores com tarefas simples recorrendo às tecnologias sempre numa lógica de mais valia. Se é para usar só apresentações electrónicas não vale a pena o esforço e o investimento. Se se mudasse o fundo de apresentação electrónica para preto e as letras para branco, há muitas semelhanças com um quadro preto. É possível mais.

A falta de transdisciplinaridade


O que podemos aprender com as empresas, os gestores, os designers, etc.? Os professores não são designers, empresários, gestores, tecnólogos mas a profissão é tão exigente que não permite ignorar o conhecimento que todas as especialidades podem trazer. Ser professor é também saber aprender rápido e um pouco de tudo e usar tudo o que existe para cumprir os seus objectivos.

A atitude perante a tecnologia


As atitudes perante a tecnologia oscilam muitas vezes entre dois extremos - do "isso não serve para nada e só dá trabalho" ao "isto vai salvar o mundo". Acreditamos que as tecnologias são só o "isso" e não precisam de ser diabolizadas ou santificadas. É preciso distinguir com clareza as qualidades inerente e as qualidades impostas à tecnologia. Facilitam a troca de informação? Sim. Isso é bom? Talvez. O valor do contexto aqui é fundamental e é nos contextos que queremos tirar maior partido destas ferramentas. Um martelo é bom ou mau? Um livro é bom ou mau? São questões que não fazem sentido.